Publicado:
20/03/18 08:35. Atualizado em 20/03/18 12:28
Desembargadora Marília Castro Neves, do RJ, postou críticas
a professores com síndrome de Down. Ela é a mesma que
divulgou informações falsas sobre a vereadora Marielle
Franco.
Professora com Down escreve carta em
resposta a crítica de desembargadora (Foto: Reprodução/TV
Globo)
A professora Débora Seabra,
primeira professora com síndrome de Down do país, fez uma carta
em resposta a uma postagem preconceituosa da desembargadora
Marília Castro Neves, do Rio de Janeiro, publicada no fim de
semana (veja íntegra da carta mais abaixo). Na postagem, a
desembargadora questiona o que professores com síndrome de Down
podem ensinar a alguém. Recentemente, a juíza publicou também
notícias falsas sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada
no Rio de Janeiro.

Desembargadora postou comentários sobre professores com Down
(Foto: Reprodução/Facebook)
"Ouço que o Brasil é o primeiro
em alguma coisa!!! Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é
o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de
Down!!! Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão
social... Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina
a quem???? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já
volto, tá?", escreveu a desembargadora em sua conta no Facebook.
Também nas redes sociais, a professora Débora Seabra publicou
uma carta em resposta à desembargadora. "Não quero bater boca
com você! Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou
professora auxiliar de crianças em uma escola de Natal (RN)",
começa a carte de Débora.
"(...) Eu ensino muitas coisas
para as crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham
respeito pelas outras, aceitem as diferenças de cada uma, ajudem
a quem precisa mais. (...) O que eu acho mais importante de tudo
isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com
o preconceito porque é crime. Quem discrimina é criminoso",
escreveu a professora.
Débora Araújo Seabra de Moura tem
36 anos e trabalha há 13 como professora auxiliar em uma escola
particular de Natal. Ela é ainda autora de livro infantil
chamado "Débora Conta Histórias" (Alfaguara Brasil, 2013). Por
ser considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas
no país ela recebeu, em 2015, o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação
em Brasília. A desembargadora Marília Castro Neves já havia se
envolvido em uma polêmica na última semana quando postou
informações falsas sobre a vereadora Marielle Franco. "Estava
engajada com bandidos", escreveu a magistrada. Por causa desta
postagem, uma representação contra a desembargadora do Tribunal
de Justiça do Rio foi protocolada no Conselho Nacional de
Justiça.

Professora Débora Seabra rebateu às críticas da desembargadora
(Foto: Reprodução/Facebook)
Repúdio
Nesta segunda-feira (19), a Federação Brasileira das Associações
de Síndrome de Down publicou uma carta de repúdio "à
demonstração de preconceito manifestado por uma autoridade
pública, a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro, em relação às pessoas com síndrome de
Down".
Na carta, a associação ressalta a luta empreendida pela
sociedade e pelo estado brasileiro pela garantia dos direitos
das pessoas com deficiência e critica a postura da magistrada.
"A FBASD considera que a mensagem carregada de preconceito,
ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu
Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a
magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos
órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de
Justiça."